quarta-feira, 1 de julho de 2015

A troca



A fé e o pensamento caminham juntos, é impossível crer sem pensar.
John Stott


Atualmente presenciamos um fenômeno bem palpável e muito presente no dia a dia da humanidade, a substituição. A imposição de uma suposta necessidade de substituir, de ter sempre o último modelo, subsistindo no elemento da descartabilidade.

Tudo se torna descartável, tudo pode ser substituído, a indústria impõe e reforça esse comportamento. Há divisões e departamentos nas organizações com um único objetivo de tornar obsoleto o recém-lançamento. Com ressalvas as reais inovações, empreender esforços em consertar tornou-se démodé, totalmente out.

Na esteira dessa cultura a prateleira religiosa é numerosa e a substituição está, infelizmente, virando regra. A troca de Deus pelos ídolos do poder, do dinheiro, do lucro, da felicidade, e a mais grave substituição, a troca de Deus pelo próprio homem, pelo seu ego e seu inestimável orgulho.

Quantos por poder, dinheiro e lucro espezinham pessoas e varrem suas dignidades da face da humanidade. Pode causar estranheza quando se fala que pessoas transformam em ídolo a própria felicidade, mas em detrimento dessa busca praticam atrocidades para alcançar o que entendem ser felicidade. Tem agora, a idolatria do corpo perfeito, a doentia busca de atingir o inatingível, usando academia e clínicas de estética e de cirurgia plástica como verdadeiros templos da insanidade.

Todavia a mais grave, ainda é a troca de Deus pelo próprio homem.

Joseph Ratzinger ilustra bem essa realidade exemplificando com a história de dois homens, o fariseu e o publicano, no evangelho de Lucas 18,9-14, é bom frisar que o texto sagrado primeiro fala e se dirige a sua época, ao povo ali e naquele momento, para depois falar ao futuro.

Dois modos distintos de se situar perante Deus e perante si mesmo. O fariseu não olha para Deus, mas apenas para si mesmo, se vangloriando de suas próprias virtudes, se orgulhando de si mesmo, não há nenhuma relação com Deus, pois ele por si mesmo faz tudo corretamente. Deus é, em última instância, dispensável, basta esse homem e apenas sua própria ação, apenas o seu próprio braço forte.

O publicano, por sua vez, olha para si a partir de Deus. O seu olhar é pelo prisma de Deus e a partir daí abre o olhar sobre si mesmo. Deste modo ele sabe que precisa D’ele, sabe que precisa da graça e misericórdia, e que diante dessa misericórdia ele aprenderá a ser ele mesmo misericordioso e assim se tornar semelhante a Deus, ainda que isso seja um horizonte muito distante.

O publicano precisa do Deus e, porque O conhece vive uma relação de ser agraciado, sempre precisará da oferta do perdão, aprendendo também a perdoar, sendo livre pela oferta do perdão.

Só esse Deus a quem Jesus de Nazaré chama de Pai mostra quem realmente nós somos, e a partir dessa descoberta, a completa aceitação de quem somos nesse Deus, e da exploração do nosso real potencial na Graça, pela ação do Espírito Santo. Até porque, como bem alerta Ed René Kivitz: “Quem não crê na ação do Espírito do Santo o Cristianismo não passa de uma filosofia de vida”.

Jesus liberta da religiosidade, da paralisação do moralismo e transporta para um contexto de uma relação de amor. Uma experiência pessoal, real e direta com Deus!

Por isso, prezados, alimente-se da Palavra e nutra esse relacionamento, estabeleça essa reconciliação com o único Deus, esse a quem Jesus chama Aba, Pai.


O oposto da fé não é incredulidade, mas idolatriaPapa Francisco


Texto escrito por: 
João Carlos Leme da Costa
jclemedacosta.adv@hotmail.com
Advogado


Imagem: http://migre.me/qzeyT

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