segunda-feira, 6 de abril de 2020

“Dai-lhes vós mesmos de comer”




A primeira multiplicação dos pães é o único milagre realizado por Jesus que é mencionado pelos quatro evangelistas (Lc 9, 10-17 = Mt 14, 13-21 = Mc 6, 30-44 = Jo 6, 1-15). Obviamente há outros sinais operados pelo Messias, mas como dito, apenas a primeira multiplicação dos pães é referida por Mateus, Marcos, Lucas e João. A ressureição de Lázaro, por exemplo, é exclusiva no Evangelho escrito por João, enquanto que há outros milagres que são comuns entre os evangelistas, aludidos de forma mais evidente nos Evangelhos sinóticos – Mateus, Marcos e Lucas –, como a cura da filha de Jairo, chefe da sinagoga (provavelmente de Cafarnaum) e a cura da mulher que padecia havia doze anos dum fluxo de sangue.

Nunca havia pensado nisso antes, mas talvez seja a multiplicação dos pães o milagre mais importante feito por Jesus, e certamente o único que o ser humano é capaz de reproduzir, não do modo extraordinario como realizado por Cristo (que alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes, e, dos pedaços que sobraram, recolheram doze cestos cheios), no entanto, de um jeito mais simples, apenas repartindo o pão. Afinal, ele mesmo disse “dai-lhes vós mesmos de comer”, quando replicou aos apóstolos, de que maneira eles haveriam de alimentar a multidão que o seguia.

Normalmente não somos desprendidos ao partilhar os bens e os dons que Deus nos concede.  É comum dividirmos entre os irmãos, e ainda muito mal, somente aquilo que nos sobra. Como é difícil partilhar com justiça! Como é difícil partilhar com equidade! Seja pelo sentimento de egoísmo, seja pelo medo de que nos venha a fazer falta, ou pela ausência de fé em Deus em prover o sustendo dos homens.

Se aquele que possui, dividir com alguém que nada tem, nenhum dos dois passará fome, ambos terão o que comer.


Assim como um Santo não nasce pronto, mas é forjado ao longo da vida, peçamos a Deus a graça de pouco a pouco, tornarmo-nos melhores “partilhadores”, confiantes em sua bondade, tendo fé de que nunca nos há de faltar o necessário para a nossa existência, e que “o repartir do pão” seja um dos caminhos a percorrer na busca da conversão à santidade. 

Jeandré C. Castelon
Advogado e Teólogo, membro da Pastoral Familiar 







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