quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Jesus sabia ler?



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Embora sem me apresentarem os alicerces de suas razões, ouvi alguns estudiosos afirmarem que Jesus não sabia ler. Parece-me que desdenhar a figura de Jesus, a tradição apostólica ou até mesmo a fé, seja para alguns, sinal de perspicácia. Apesar de possuir o dever moral de respeitar diferentes pontos de vista, acredito que essas pessoas se equivocam, por vários fundamentos em sentido contrário.

É verdade que muitos indivíduos não sabiam ler e escrever na época de Jesus. Escrever era profissão e cabia aos escribas tal mister. A história relata que até mesmo imperadores eram analfabetos. Havia aqueles que não sabiam escrever, mas sabiam ler.

E Jesus, será que sabia ler? Na Bíblia há pelo menos um episódio onde Jesus lê e outro onde escreve. O Evangelho de Lucas relata que Jesus “entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías” (Lc 4, 16-17). No Evangelho de João, no episódio, onde escribas e fariseus trazem a Jesus uma mulher adúltera, e colocando-o à prova, questionam a lei de Moisés que previa a morte por apedrejamento em tal situação. “Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra. Inclinando-se novamente, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele” (Jo 8, 6-9).

Era costume entre os judeus recitar trechos da Sagrada Escritura, que sabiam de cor. Cantavam os salmos durante os afazeres diários, durante as viagens, peregrinações. Tinham um contato, talvez até maior com a Palavra de Deus do que muitos dos cristãos de hoje, que embora tenham pleno acesso à Bíblia não a leem. Era uma grande honra para a família quando o menino, após completar a idade de 13 anos e ser considerado um homem a partir de então, poder em dia de sábado ler na Sinagoga trechos das Escrituras. As Sinagogas, local da celebração religiosas aos sábados, funcionavam como escolas nos outros dias da semana.

O livro do Deuteronômio determina ao povo de Israel que escreva os mandamentos e os amarre nas mãos e na testa diante dos olhos (filactério). Determina também que os mandamentos devem ser escritos e postos nos batentes das portas (mezuzah).  “Inculcarás a teus filhos, e deles falarás, seja sentado em tua casa, seja andando pelo caminho, ao te deitares e ao te levantares”. No mínimo deveriam saber ler para poder cumprir estes preceitos (Dt, 6).

Era permitido ao povo ter em casa trechos da Sagrada Escritura. Flávio Josefo, renomado historiador judeu, que nasceu pouco tempo após Jesus, relata que durante o século II a.C., quando o povo amargava grande perseguição por parte de Antíodo IV Epifâneo, rei da dinastia Selêucida (um dos reinos que surgiu após a morte de Alexandre Magno, que por não ter herdeiros diretos teve seu império dividido entre seus generais), além de mandar construir um altar no Templo e ordenar que lá se sacrificassem porcos, o que é uma das coisas mais contrárias à religião judaica,  mandou “queimar todos os livros das Sagradas Escrituras e não poupava ninguém na casa em que os encontrava” (História dos Hebreus, 465). O fato das pessoas portarem Textos Sagrados em suas casas, é sinal de que sabiam ler.

Diferente de outros povos, o judeu sempre presou pela leitura e conhecimento dos textos das Sagradas Escrituras, e para tanto precisavam saber ler. É claro que grande parte do povo que vivia na miséria tinha pouco ou nenhum acesso à educação, o que não era o caso de Jesus, que embora pobre, aprendeu o oficio de carpinteiro e teve inclusive oportunidade de peregrinar a Jerusalém quando garoto, junto com a sua família.

Sejam pelos fundamentos bíblicos ou pelos fundamentos históricos, tudo leva a crer que Jesus, educado na cultura judaica pelo dedicado e amoroso José - pois cabia ao homem transmitir a fé -, sim, sabia ler!
 
Jeandré C. Castelon
Advogado, pós-graduado em Cultura Teológica e membro da Pastoral Familiar


terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Tempo de reflexão, penitência e conversão


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Todos os anos os católicos encontram no período da Quaresma uma nova oportunidade de se achegarem ainda mais perto do colo de Deus, que sempre está de braços abertos à espera da aproximação dos seus filhos. Deus ama e acolhe todas as pessoas, independentemente do estado em que se encontram. Sempre há misericórdia.

Evocativos ao tempo em que Jesus jejuou no deserto, a Quaresma dura 40 dias, a partir da Quarta-Feira de Cinzas até o Sábado de Aleluia, véspera da Páscoa, onde muito mais do que trocar chocolates, celebra-se a ressurreição de Cristo. É importante destacar que durante o período quaresmal não são contados os domingos para o cômputo dos 40 dias. Excluem-se da contagem seis domingos. Domingo sempre é o dia do Senhor, dia de estar com a família, dia de encontros e alegria, não se jejua no domingo.

Na Quarta-Feira de Cinzas os católicos recebem durante a Missa as cinzas obtidas da queima dos ramos abençoados no ano anterior, na celebração do Domingo de Ramos. Traça-se o sinal da cruz na testa do fiel com as cinzas umidificadas com água benta, ou derrama-se uma pequena porção sobre a cabeça, proferindo-se uma das seguintes locuções: “lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou “convertei-vos e crede no evangelho”.

Recordo-me quando adolescente, em uma Missa de Quarta-Feira de Cinzas, onde o celebrante, Monsenhor José Dantas, na Paróquia, hoje Santuário, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Umuarama-PR, convidava toda a assembleia a ler o Livro de Jó, refletindo os acontecimentos ocorridos com o protagonista. Chegando em casa, folheando a Bíblia constatei que o livro tem 42 capítulos, o que naquela época me desmotivou, bastava ter sido um pouco mais organizado e ter lido um capítulo por dia, que mesmo antes de findar a Quaresma teria concluído a leitura, afinal, matematicamente da Quarta-Feira de Cinzas ao Sábado de Aleluia são 46 dias. O livro foi lido por mim muito tempo depois.  

Jó é o maior exemplo de resistência ante às dificuldades que poderão ser enfrentadas durante a vida. Jó, mesmo na imensa dor, permaneceu fiel a Deus, e Deus sempre esteve ao seu lado. Deus não manda sofrimento à humanidade, mas porque Ele permite que soframos é um grande mistério.

Além de abster-se de comer carne vermelha (mais precisamente, carne de qualquer animal de sangue quente) na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa, aproveitemos essa nova oportunidade para reflexão e um novo encontro com Deus, para tanto, como fez o Padre Dantas naquela Missa, convido-os a lerem e meditarem a mensagem contida no Livro de Jó. 

Jeandré C. Castelon
Advogado, pós-graduado em Cultura Teológica e membro da Pastoral Familiar


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