sexta-feira, 1 de julho de 2016

“Como eu era antes de você” e o suicídio assistido




Não. Eu não gostei do final do filme. No final o mocinho morre, não de forma heroica ou natural, mas porque assim decidiu, sem nenhum propósito altruísta, simplesmente pelo desejo pessoal, digo até egoísta, de apagar da face da Terra a sua existência. O protagonista viaja para a Suíça com o objetivo de ser ajudado a realizar livremente os procedimentos para a sua morte.

Fora das telas do cinema, na Suíça é permitindo que entidades ofereçam estrutura para a realização do mórbido procedimento, tornando o país famoso no mundo pelo “turismo da morte”. Pessoas de diferentes países viajam para a Suíça com o fim último de ceifarem a própria vida. Obviamente que o processo é oneroso e os pacientes desembolsam altas somas para poderem ter acesso ao procedimento fúnebre.

No desenrolar do enredo tem-se a impressão que o ator principal, preso a uma cadeira de rodas, tetraplégico, encontra em um novo amor forças para continuar lutando pela vida e a esperança de dias melhores. Mas não é o que ocorre. A família sofre com a decisão, a mãe não aprova, está entre aqueles que não apoiam tal atitude, contudo, há os que defendem que a livre vontade de pôr termo à vida deva ser acatada.

Entendo que a vida deve ser respeitada em toda e qualquer situação, desde a concepção até a morte natural. A defesa da vida, além de tudo, também é um princípio cristão. É claro que pessoas doentes ou com alguma deficiência precisam e merecem tratamento digno. Devem ser amparadas para que possam ter uma vida com a qualidade tão normal quanto for possível. “Descartá-las”, como se fossem um objeto qualquer que não serve para nada, não é a solução.

A vida é uma dádiva. Permitir a eutanásia (quando outra pessoa realizada os procedimentos necessários para a morte do paciente) ou o suicídio assistido (quando o paciente por si só livremente realizada o procedimento, na presença de outras pessoas) é nocivo à humanidade.

Alguns podem questionar: mas você não está passando pelas mesmas dores de quem padece um grave sofrimento? Sim, isso é verdade, não estou. Mas digo que pelo amor que sinto por minha família, não desejo que ninguém encurte seus dias de forma não natural. Quero aproveitar cada momento possível próximo daqueles que, por força de laços familiares ou de amizade, são imprescindíveis.

E você, se pudesse escolher prolongar seus dias sobre a Terra, ficar ao lado das pessoas que ama por mais alguns instantes, não se agarraria a toda e qualquer centelha de vida? A vida é uma dádiva, e não devemos interrompe-la voluntariamente.

Jeandré C. Castelon

Advogado e Membro da Pastoral Familiar


Imagem: http://migre.me/ufDfC

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