segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A importância do protagonismo do leigo na vida da Igreja




“[...] os leigos, dado que são participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, têm um papel próprio a desempenhar na missão do inteiro Povo de Deus, na Igreja e no mundo. Exercem, com efeito, apostolado com a sua ação para evangelizar e santificar os homens e para impregnar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho; deste modo, a sua atividade nesta ordem dá claro testemunho de Cristo e contribui para a salvação dos homens. E sendo próprio do estado dos leigos viver no meio do mundo e das ocupações seculares, eles são chamados por Deus para, cheios de fervor cristão, exercerem como fermento o seu apostolado no meio do mundo.” (Decreto Apostolicam Actuositatem, 2).

O leigo, fiel de Cristo, ou simplesmente cristão, não consagrado a vida sacerdotal ou religiosa, divide com o clero, papel fundamental de semear o Evangelho por todo o mundo. O leigo, inserido em cada um dos setores da sociedade, é desafiado a ser luz do mundo e sal da terra em todos os locais onde estiver, não só dentro do seio da Igreja.

Todo cristão desempenha papel de extrema relevância e importância. Assim, surgem por consequência grandes responsabilidades. Ideologias particulares e mundanas precisam ser deixadas de lado, em defesa da vida, da verdade e do bem comum.

Para lidar com as adversidades e desafios que por certo encontrará do decorrer da longa caminhada na estrada trilhada por Jesus Cristo, é necessário que o leigo construa sua casa sobre a rocha, como revela o Evangelho de Mateus (7, 24-27):

“Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não caiu, porque estava edificada na rocha. Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que construiu sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande foi a sua ruína.”

É Deus a rocha da salvação (Salmo 94, 1), e para melhor estar ligado a ele, aplicando-se cada vez mais no exercício das virtudes da fé, esperança e caridade, faz-se necessária a oração diária e leitura da Bíblia. Espiritualmente alimentado e forte, o fiel de Cristo suportará com ânimo renovado os percalços que inevitavelmente encontrará ao longo do caminho. 

Acredito que, primeiro, o protagonismo do leigo deve começar dentro de sua casa. Quando um lar é verdadeira Igreja Doméstica, espaço de fé e oração, as dificuldades para o fiel cristão ser Igreja fora dos ambientes eclesial e doméstico são suavizadas.

Todo batizado precisa ser de fato, sal da terra e luz das nações. Guiado pelo Espírito Santo, o leigo precisa contribuir para a evangelização, principalmente através de um frutuoso testemunho de vida.

Há distinção entre o sacerdócio ministerial recebido pelo Sacramento da Ordem, reservado aos Presbíteros e Bispos, e o sacerdócio comum do leigo, múnus recebido pelo Batismo. Entretanto, mesmo que cada um exerça diferentes funções, todos os membros da Igreja fazem parte de um só corpo: Jesus Cristo. É de extrema importância que o leigo “sinta-se Igreja” e contribua para a salvação de todo o povo de Deus.


Jeandré C. Castelon

Imagem: http://migre.me/rEtoM
No Jornal: Gazeta de Toledo

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Ágape: amor, caridade, benevolência





               A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus, assim apregoa o parágrafo 1822 do Catecismo da Igreja Católica. Segundo o mesmo Catecismo, parágrafo 1813, as virtudes teologais, são infundidas por Deus na alma dos fiéis, fundamentando, animando e caracterizando o agir moral do cristão. Há três virtudes teologias: fé, esperança e caridade.

Na I Carta de São Pedro (4,8), o apóstolo nos aconselha a prática da caridade: “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a multidão dos pecados”. Texto semelhante pode ser encontrado no capítulo 10, versículo 12, do Livro dos Provérbios.

São Paulo, quando escreve a I Carta aos coríntios (13, 1-13) utiliza o termo “ágape”, que traduzido do grego significa: amor, caridade, benevolência. Ágape é o amor afetivo, isento de conotação sexual, de segundas intenções, de malícia, de interesses pessoais. É a forma de amor mais inclusiva e abrangente possível. São Paulo, no referido texto, destaca que entre as virtudes teologais: fé, esperança e caridade; a última é superior às outras duas.

A Epístola de São Tiago, no capítulo 4, justifica a fé pelas obras. O autor é célebre ao afirmar que “a fé sem obras é morta”. Portanto, muitos são os exemplos bíblicos que aconselham a realização de obras de caridade.

No mundo, cerca de 1,3 bilhão de pessoas são católicas, e a Igreja a qual pertencem, segue dando exemplo, como a maior instituição caritativa do planeta. Segundo o “Anuário Estatístico da Igreja” publicado pela Agência Fides, a Igreja Católica administra no mundo 115.352 institutos beneficentes e assistenciais, sem contar que majoritariamente esses institutos se subdividem em inumeráveis sedes.

Presente em todos os continentes, a Igreja Católica mantém na Ásia: 1.076 hospitais; 3.400 dispensários, que são locais para tratamento de doentes com dificuldades econômicas, onde se oferece atendimento médico e medicamentos gratuitos; 330 leprosários; 1.685 asilos; 3.900 orfanatos; 2.960 jardins de infância.  Na África: 964 hospitais; 5.000 dispensários; 260 leprosários; 650 asilos; 800 orfanatos; 2.000 jardins de infância.  Na América: 1.900 hospitais; 5.400 dispensários; 50 leprosários; 3.700 asilos; 2.500 orfanatos; 4.200 jardins de infância. Na Oceania: 170 hospitais; 180 dispensários; 1 leprosário; 360 asilos; 60 orfanatos; 90 jardins de infância. Na Europa: 1.230 hospitais; 2.450 dispensários; 4 Leprosários; 7.970 asilos; 2.370 jardins de infância.

Não há dúvidas de que a Igreja Católica é exemplo para o mundo em matéria de caridade, na realização de obras que contribuem para com toda a raça humana, inclusive atendendo e prestando socorro a pessoas que não pertencem à mesma Igreja. É claro que muitos membros da Igreja se equivocam, são sujeitos falíveis, afinal são seres humanos, repletos de imperfeições, assim como qualquer pessoa, independentemente de pertencer ou não a uma denominação religiosas. Executa-se para os católicos, a infalibilidade do Papa em matéria de fé e moral, porque sobre tais temas, a manifestação do Pontífice é isenta de erro.

Acredito que, quando no dia do definitivo juízo, as boas obras que tenhamos praticado durante a vida darão testemunho a nosso favor. Contará de maneira positiva até mesmo o copo de água fresca dado a um pequenino, como fora dito por Jesus no evangelho de Mateus (10,42). Pois está escrito que as obras seguem os bem-aventurados que habitam com o Senhor, e descansam dos seus trabalhos (Ap. 14, 13).

Jeandré C. Castelon
Advogado e membro da Pastoral Familiar

Imagem: http://migre.me/rAEzx


No Jornal: Gazeta de Toledo

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Perdoar o pecador é diferente de aprovar o pecado: o Papa Francisco e a questão do aborto



O dia 8 de dezembro de 2015, data em que se completa 50 anos de encerramento do Concílio Vaticano II, marca o início do jubileu extraordinário da misericórdia, proclamado pelo Papa Francisco. O Ano Santo, dedicado à misericórdia, inicia-se na Solenidade da Imaculada Conceição (8 de dezembro) e transcorrerá até o dia 20 de novembro de 2016.

O Papa Francisco estabeleceu no dia 1º de setembro 2015 diversas formas em que será possível obter indulgências durante o referido Ano Santo. Entre as novidades, o Papa concede a todos os sacerdotes a faculdade de absolver o pecado do aborto. Repito: a faculdade (possibilidade), não a obrigação.

Essa notícia passou a ser divulgada em diferentes meios de comunicação, de forma distorcida. Destaco alguns títulos de jornais de circulação nacional: “Papa pede que, durante Jubileu da Misericórdia, padres perdoem o aborto”; “Papa comandará perdão em massa por aborto”; “Papa pede a padres para perdoarem aborto durante o Jubileu”; “Papa autoriza padres a perdoarem mulheres que fizeram aborto”; entre outros.

Não é a primeira vez que, maldosamente ou não, uma notícia vinculada ao Papa Francisco é mal interpretada, como se a Igreja estivesse mudando sua doutrina em assuntos relacionados à vida e à família. O aborto está previsto como crime tipificado no Código de Direito Canônico (cânon 1398), onde quem o pratica “incorre em excomunhão latae sententiae”. Ou seja, a excomunhão é automática, sendo reservada a absolvição e a reinserção como membro da Igreja, em regra, somente ao Bispo.

No Ano Santo, o Papa Francisco apenas amplia a todos os padres a possibilidade de remover esta grave pena canônica. Cabendo destacar que os padres não estão obrigados a dar a absolvição, é uma faculdade. Também importante salientar que o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1480), estabelece requisitos para se receber o Sacramento da Penitência (confissão), onde o fiel deve reconhecer que cometeu um pecado, estar arrependido, e cumprir a penitência estabelecida pelo confessor. Além disso, importante é o propósito pessoal de mudança de vida, renunciando ao pecado. Algumas pessoas que praticaram o aborto poderão não receber a absolvição, por exemplo, quando se constate a inexistência de arrependimento.
 
O Papa Francisco destacou que “perante a gravidade do pecado, Deus responde com a plenitude do perdão. A misericórdia será sempre maior do que qualquer pecado, e ninguém pode colocar um limite ao amor de Deus que perdoa.". Isso quer dizer que Deus acolhe o pecador arrependido, embora abomine o pecado. Perdoar o pecador é diferente de aprovar o pecado.

Quando o fiel recebe o perdão pelas faltas cometidas, apaga-se todas as manchas do passado. A vida segue com um novo recomeço, Deus concede uma nova oportunidade de se alcançar a santidade.

Portanto, a misericórdia divina não deve ser entendida como uma permissão tácita para a prática do pecado. Também o fato do Papa estender durante determinado período a possibilidade dos padres absolverem o penitente que praticou o aborto, expandindo e facilitando o acesso à confissão, não quer dizer que o aborto seja aceitável. Pelo contrário, a Igreja defende a fundamental e incondicional defesa pela vida, desde a concepção até a morte natural. Aborto continua sendo crime previsto tanto na legislação canônica, quanto na lei civil.

Jeandré C. Castelon

Imagem: http://migre.me/rpPuN
Nos Jornais: Umuarama Ilustrado / Gazeta de Toledo

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