segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Coparticipantes da criação




Uma criança não deveria ser gerada de qualquer jeito, com qualquer pessoa, sem amor. A Igreja é sábia em sua doutrina, ensina a verdade e cada um com suas inerentes limitações e capacidades tenta viver esta verdade, nem sempre de forma plena, tropeça, cai, levanta e deve seguir em frente.

Meninas de doze anos grávidas sem saber quem é o pai do bebê; crianças abandonadas nas ruas; meninos e meninas criados em ambientes degradantes, onde as chances dos mesmos erros se repetirem são gigantescas; crianças sem perspectiva de futuro, entregues à violência e aos vícios; tudo isso pode ser evitado pelo verdadeiro amor entre um homem e uma mulher, quando maduros e conscientes de suas escolhas optam por viverem juntos pelo resto de suas vidas. E como fruto desse amor, filhos são gerados, verdadeiras testemunhas da sacralidade da união de seus pais. Um filho deveria ser sempre fruto do amor conjugal de seus pais.

No parágrafo 81 da Exortação Apostólica Amoris Laetitia - A alegria do amor -, o Papa Francisco não só destaca a importância do amor conjugal para a transmissão da vida humana, mas também exalta a generosidade divina que permitiu ao homem e à mulher participarem da obra da criação. Diz também que o filho não deve ser encarado com uma dívida, mas sim com uma dádiva, presente Deus. “... o Criador tornou participantes da obra da sua criação o homem e a mulher e, ao mesmo tempo, fê-los instrumentos do seu amor, confiando à sua responsabilidade o futuro da humanidade através da transmissão da vida humana” (AL 81).

Todo ser humano é dotado de corpo e alma. A alma é a parte divina que compõe cada pessoa. Essa alma que vem de Deus retornará para junto do criador, quando, em razão da morte, é separada do corpo. É fundamental nunca esquecer que toda a vida humana possui a centelha divina, possui uma alma. Por mais lastimável que esteja a situação de alguém, ela fora criada à imagem e semelhança de Deus.

A criatura participa da obra da criação ao trazer à luz uma nova vida e preparar-se bem para exercer o papel confiado por Deus de manter viva a espécie humana sobre a Terra é de extrema importância. Se acaso uma nova vida surgir de maneira inesperada, nem por isso deixará de ser um grande presente, uma dádiva, que precisa ser protegida e amada. O ideal seria cada filho vir ao mundo no seio de uma família bem estruturada onde reine o amor entre seus pais, contudo, nem sempre o ideal é alcançado. Para todos os casos o amor não pode faltar, pois somente o amor é capaz de preencher todas as lacunas.

Jeandré C. Castelon

Advogado, pós-graduado em Cultura Teológica.




terça-feira, 1 de novembro de 2016

Momento oportuno



Vez ou outra, lembro-me da passagem bíblica em Lucas, onde Jesus está na cruz entre dois malfeitores, um deles zomba de Jesus dizendo: “ Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!”; enquanto o outro reconhece no último minuto, o Messias, isento de qualquer pecado, e pede para que se lembre dele quando estiver no seu Reino. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”.

Muitas pessoas têm o costume de denominar o malfeitor arrependido de ‘bom ladrão’. Fora da Bíblia, em outros escritos, o ‘bom ladrão’ é chamado de Dimas. Conta-nos uma narrativa de cunho popular do primeiro século d.C., que Dimas também teria vindo da Galileia, teria conhecido Jesus desde a infância, sua mãe se chamava Dina e era colega de Maria, mãe de Jesus. Porém, Dimas escolheu a violência, refugiou-se nas montanhas quase como um guerrilheiro e batalhou em vão, junto com outros adeptos, contra a dominação romana.

Nos instantes finais de sua vida Dimas se arrependeu e foi acolhido no Céu. Todas as suas faltas pregressas foram apagadas pela misericórdia divina. Mesmo prestes a morrer, humilhado e já crucificado, certo que o melhor momento de sua vida foi quando esteve ao lado de Jesus, quando teve garantida a salvação eterna. Assim, constata-se que o kairós (momento oportuno, tempo de Deus) na vida de Dimas aconteceu pouco antes dele falecer.

No instante final de nossas vidas talvez não tenhamos o mesmo momento oportuno, assim como teve Dimas, talvez no último instante de nossas vidas não tenhamos a chance de nos convertermos. Então, por via das dúvidas, é melhor que iniciemos ou sigamos agora mesmo com o nosso processo de conversão, buscando o Senhor, já que ele se deixa encontrar, invocando-o, já que está perto (Isaías 55,6). É hoje o nosso momento oportuno! Todo dia é dia de conversão! Não sabemos quanto tempo nos resta, é sensato agirmos agora, voltemo-nos para Deus neste instante.

Reúna-se em família, entre amigos; reze; espiritualize-se; faça o bem e quando errar peça perdão - provavelmente teremos de fazer isso muitas vezes; participe da vida de sua comunidade; congregue na Igreja; aprecie aquilo que Deus nos criou para que nos entretivéssemos enquanto aqui na terra; o momento oportuno é agora; comece hoje; pode ser que amanhã nosso tempo se esgote.

Jeandré C. Castelon
Advogado e teólogo, pós-graduado em Cultura Teológica.



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