domingo, 26 de julho de 2015

Cuidar-se e evitar exageros





“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma.” (I Coríntios 6, 12)

Este versículo escrito por São Paulo aos Coríntios, no primeiro século da era cristã, resume muito bem o que é realmente ser livre. Poder fazer tudo o que se quer, sem prejudicar o próximo e nem a si mesmo. Até porque, embora autônomo no exercício dos desejos, ninguém fica imune às consequências dos seus atos.

Se o corpo é mal tratado, cedo ou tarde o organismo dará sinais de fragilidade e suplicará por socorro. Também a família e os amigos merecem cuidados. Estreitar laços é importante. Igualmente os excessos precisam ser evitados. É melhor pôr-se vigilante, enquanto há tempo.  

Os afazeres diários também merecem atenção. Não se deve exagerar na carga de trabalho, nem esquivar-se totalmente dele. De que adianta o labor exaustivo dia após dia, ano após ano, se o convívio familiar for prejudicado, se não houver amigos. De que adianta um bom emprego, uma pomposa posição social, se o lar estiver em ruínas. O trabalho é importante, de fato dignifica o homem, no entanto, não pode ser o único sentido da vida.

Existem os que de tanto trabalhar se esquecem de viver. Por outro lado, há também os que não fazem absolutamente nada, apenas vivem de sugar, como faz um parasita, os frutos do trabalho alheio. São Paulo em sua segunda carta aos Tessalonicenses exorta no seguinte: “... soubemos que entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-se em assuntos alheios. A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se dediquem tranqüilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que comer. Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem” (cap. 3, 11-13). É prejudicial estar em qualquer lado desses opostos extremos.

Preocupar-se com os outros é de suma importância, mas não devemos nos esquecer de nós mesmos. O cuidado pessoal, sem se entregar aos exageros também é uma forma de demonstrar amor pelas pessoas com quem nos importamos, já que uma vida equilibrada e saudável tende a ser mais duradoura, e assim é possível aumentar a quantidade de momentos felizes compartilhados ao lado de indivíduos imprescindíveis.

 Se você ama alguém, cuide de sua saúde, para que possa permanecer mais tempo com a pessoa amada. O desleixo, a falta de zelo com o corpo e com a mente, principalmente quando entregues aos vícios e à promiscuidade, encurtam a vida. Não seja escravo do trabalho ou totalmente avesso a ele. Mesmo que você não tenha ninguém, que viva absolutamente só, cuide-se mesmo assim, afinal é possível ser útil, ajudar pessoas, fazer a diferença na história daqueles que não possuem mais nada, mas que podem oferecer muito, acrescentar valores impagáveis e ajudar-nos a encontrar o sentido da vida.

Encontrar o equilíbrio é um desafio para o homem moderno, que vive submisso e preso a um sistema que esgota as forças, que suprime o precioso e cada vez mais escasso tempo, que cumula stress e priva momentos agradáveis. É preciso ser diligente na busca da felicidade, sendo prudente ao tomar decisões. Afinal de contas: “tudo me é permitido, mas nem tudo convém”.

Jeandré C. Castelon

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Nos Jornais: Gazeta de Toledo / O Paraná / Umuarama Ilustrado

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Barbáries




Um homem de 29 anos foi linchado por um grupo de pessoas, moradores do bairro denominado Jardim São Cristóvão em São Luiz do Maranhão. O nome dele era Cleidenilson. Era, porque ele está morto. Foi amarrado num poste por populares, e agredido até a morte, assim como faziam com os negros antes da abolição da escravatura quando da assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Açoitavam, e muitas vezes até o ponto de retirar a vida do escravo, visando entre outros objetivos, servir de exemplo. No mesmo episódio estava envolvido um menor de 16 anos, que teve melhor sorte, e apesar de também brutalmente agredido, sobreviveu à barbárie.

Cleidenilson e o citado menor foram sumariamente julgados e a macabra sentença foi executada à luz do dia, na presença de muitas testemunhas, pelas mãos de uma população raivosa e descontrolada. Segundo a polícia, os dois envolvidos teriam tentado assaltar um bar. Foram rendidos e amarrados. Cleidenilson preso a um poste, teve suas roupas arrancadas, e nu, suportou por algum tempo os socos, chutes, pedradas e garrafadas, até quando não mais aguentou e expirou.

O pai de Cleidenilson afirmou veementemente que seu filho não era ladrão. Digo, hipoteticamente, mesmo que fosse um ladrão, não merecia ser brutalmente assassinado.

Pergunto-me: o que vai acontecer com os autores de tão bárbaro crime? Talvez não aconteça nada. Talvez ninguém seja punido. Estamos no país da impunidade.

Quero deixar bem claro que, se o assalto fosse confirmado pela Justiça, os dois deveriam ser punidos com os rigores da Lei. Ninguém deve ser condenado, sem antes, submetido a um julgamento isento de ânimo e justo.

Recordo-me de outro linchamento, o da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que era casada e tinha dois filhos. Ela foi agredida e morta por seus vizinhos no Guarujá no Estado de São Paulo, tudo a partir de um boato mentiroso divulgado pela internet, que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Fabiane era inocente. Os seus agressores não são.

Assusta-me a ideia de que muitos passem a defender o linchamento como algo normal e aceitável, repetindo tamanha brutalidade em outras cidades. Que muitos pensem e digam que Cleidenilson teve o que merecia.

Ninguém pode caminhar bem tomando atitudes bárbaras. A violência empregada a ponto de tirar a vida de alguém não se legitima por nenhum argumento. O que aconteceu somente poderia ser justificado por um pensamento doentio, derivado de mentes transtornadas.

O que assalta deve ser julgado, condenado e pagar pelo seu crime. Da mesma forma aquele que ceifa a vida de alguém não merece ficar impune. Que a Justiça seja ampla e para todos.

Cleidenilson até poderia ter sido um ladrão, mas os que lhe tiraram a vida, o que são?

Não matar é um dos dez mandamentos que figuram no Livro do Êxodo (capítulo 20). Referido mandamento não deve ser somente observado por pessoas que professam fé em determinadas religiões, mas por toda pessoa civilizada que deseja conviver em paz.

Jeandré C. Castelon


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Nos Jornais: Gazeta de Toledo / Umuarama Ilustrado / O Paraná

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Prepare-se!




Muitas vezes gostaríamos de alcançar os resultados pretendidos de forma instantânea, rápida, e de preferência sem muito esforço. Vivemos na era do imediatismo, tudo tem que ser para agora. Em todos os lugares queremos ser atendidos de forma rápida, como se fossemos os únicos seres existentes; a comida no restaurante não pode demorar sequer alguns poucos minutos; até mesmo quando usando a internet, a paciência logo se esgota quando o link tarda a abrir ou o download não é se realizada com a velocidade esperada.  Talvez lhe falte paciência para completar a leitura deste breve texto. Andamos com muita presa e não chegamos a lugar algum.

Não raras vezes o tempo que nos sobra não é bem aproveitado. Queremos cada vez mais tempo, para perdê-lo em atividades pouco proveitosas. Poucos têm a paciência necessária para prepararem-se para o futuro. Gastar um bom tempo em atividades edificantes: família, estudos, amigos, lazer, entre outras.

Para se chegar ao sucesso, cumprir nossos objetivos é importante um período de preparação. Na Bíblia, em diferentes momentos, antes de chegar-se a uma grade conclusão, antes do grande objetivo, os personagens tiveram um momento de preparação.

No texto bíblico, o número 40 representa determinado lapso de tempo suficiente para algo (tempo necessário para...). Durante o dilúvio, a chuva caiu por quarenta dias e quarenta noites; Moisés permaneceu com o Senhor, durante quarenta dias e quarenta noites, antes de receber os Dez Mandamentos; o profeta Elias caminhou por quarenta dias e quarenta noites, antes de chegar ao Monte Horeb, a montanha de Deus; quarenta anos o povo hebreu permaneceu no deserto até chegar à Terra Prometida; os ninivitas tiveram quarenta dias para se converterem a Deus, quando do anúncio proferido pelo profeta Jonas; Jesus, após o batismo, permaneceu por quarenta dias no deserto. Estes são apenas alguns exemplos. Não foi diferente com os apóstolos, e igualmente com São Paulo, todos passaram por um período de preparação. 

Não existem resultados imediatos para importantes objetivos. Não se chega a grandes metas sem esforço. Para tudo na vida, há um momento de preparação, seja em razão de uma promissora carreira profissional, seja para determinada atividade a ser realizada em comunidade, ou até mesmo para compartilhar a vida ao lado de outra pessoa, formando uma perfeita união conjugal (imprescindível é uma boa preparação para o matrimônio).

Então, não há alternativa, não existe outro caminho a percorrer, prepare-se! Estude como é preciso estudar, trabalhe como é preciso trabalhar, confie na providência de Deus como é preciso confiar, e espere. Paciência é virtude, não disse que seria fácil, porém, tenho plena convicção de que os resultados serão surpreendentes. Nada que valha realmente a pena se consegue sem esforço.

Jeandré C. Castelon

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Nos Jornais: Jornal Hoje /  Jornal O Paraná / Gazeta de Toledo

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A troca



A fé e o pensamento caminham juntos, é impossível crer sem pensar.
John Stott


Atualmente presenciamos um fenômeno bem palpável e muito presente no dia a dia da humanidade, a substituição. A imposição de uma suposta necessidade de substituir, de ter sempre o último modelo, subsistindo no elemento da descartabilidade.

Tudo se torna descartável, tudo pode ser substituído, a indústria impõe e reforça esse comportamento. Há divisões e departamentos nas organizações com um único objetivo de tornar obsoleto o recém-lançamento. Com ressalvas as reais inovações, empreender esforços em consertar tornou-se démodé, totalmente out.

Na esteira dessa cultura a prateleira religiosa é numerosa e a substituição está, infelizmente, virando regra. A troca de Deus pelos ídolos do poder, do dinheiro, do lucro, da felicidade, e a mais grave substituição, a troca de Deus pelo próprio homem, pelo seu ego e seu inestimável orgulho.

Quantos por poder, dinheiro e lucro espezinham pessoas e varrem suas dignidades da face da humanidade. Pode causar estranheza quando se fala que pessoas transformam em ídolo a própria felicidade, mas em detrimento dessa busca praticam atrocidades para alcançar o que entendem ser felicidade. Tem agora, a idolatria do corpo perfeito, a doentia busca de atingir o inatingível, usando academia e clínicas de estética e de cirurgia plástica como verdadeiros templos da insanidade.

Todavia a mais grave, ainda é a troca de Deus pelo próprio homem.

Joseph Ratzinger ilustra bem essa realidade exemplificando com a história de dois homens, o fariseu e o publicano, no evangelho de Lucas 18,9-14, é bom frisar que o texto sagrado primeiro fala e se dirige a sua época, ao povo ali e naquele momento, para depois falar ao futuro.

Dois modos distintos de se situar perante Deus e perante si mesmo. O fariseu não olha para Deus, mas apenas para si mesmo, se vangloriando de suas próprias virtudes, se orgulhando de si mesmo, não há nenhuma relação com Deus, pois ele por si mesmo faz tudo corretamente. Deus é, em última instância, dispensável, basta esse homem e apenas sua própria ação, apenas o seu próprio braço forte.

O publicano, por sua vez, olha para si a partir de Deus. O seu olhar é pelo prisma de Deus e a partir daí abre o olhar sobre si mesmo. Deste modo ele sabe que precisa D’ele, sabe que precisa da graça e misericórdia, e que diante dessa misericórdia ele aprenderá a ser ele mesmo misericordioso e assim se tornar semelhante a Deus, ainda que isso seja um horizonte muito distante.

O publicano precisa do Deus e, porque O conhece vive uma relação de ser agraciado, sempre precisará da oferta do perdão, aprendendo também a perdoar, sendo livre pela oferta do perdão.

Só esse Deus a quem Jesus de Nazaré chama de Pai mostra quem realmente nós somos, e a partir dessa descoberta, a completa aceitação de quem somos nesse Deus, e da exploração do nosso real potencial na Graça, pela ação do Espírito Santo. Até porque, como bem alerta Ed René Kivitz: “Quem não crê na ação do Espírito do Santo o Cristianismo não passa de uma filosofia de vida”.

Jesus liberta da religiosidade, da paralisação do moralismo e transporta para um contexto de uma relação de amor. Uma experiência pessoal, real e direta com Deus!

Por isso, prezados, alimente-se da Palavra e nutra esse relacionamento, estabeleça essa reconciliação com o único Deus, esse a quem Jesus chama Aba, Pai.


O oposto da fé não é incredulidade, mas idolatriaPapa Francisco


Texto escrito por: 
João Carlos Leme da Costa
jclemedacosta.adv@hotmail.com
Advogado


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