segunda-feira, 13 de julho de 2015

Barbáries




Um homem de 29 anos foi linchado por um grupo de pessoas, moradores do bairro denominado Jardim São Cristóvão em São Luiz do Maranhão. O nome dele era Cleidenilson. Era, porque ele está morto. Foi amarrado num poste por populares, e agredido até a morte, assim como faziam com os negros antes da abolição da escravatura quando da assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Açoitavam, e muitas vezes até o ponto de retirar a vida do escravo, visando entre outros objetivos, servir de exemplo. No mesmo episódio estava envolvido um menor de 16 anos, que teve melhor sorte, e apesar de também brutalmente agredido, sobreviveu à barbárie.

Cleidenilson e o citado menor foram sumariamente julgados e a macabra sentença foi executada à luz do dia, na presença de muitas testemunhas, pelas mãos de uma população raivosa e descontrolada. Segundo a polícia, os dois envolvidos teriam tentado assaltar um bar. Foram rendidos e amarrados. Cleidenilson preso a um poste, teve suas roupas arrancadas, e nu, suportou por algum tempo os socos, chutes, pedradas e garrafadas, até quando não mais aguentou e expirou.

O pai de Cleidenilson afirmou veementemente que seu filho não era ladrão. Digo, hipoteticamente, mesmo que fosse um ladrão, não merecia ser brutalmente assassinado.

Pergunto-me: o que vai acontecer com os autores de tão bárbaro crime? Talvez não aconteça nada. Talvez ninguém seja punido. Estamos no país da impunidade.

Quero deixar bem claro que, se o assalto fosse confirmado pela Justiça, os dois deveriam ser punidos com os rigores da Lei. Ninguém deve ser condenado, sem antes, submetido a um julgamento isento de ânimo e justo.

Recordo-me de outro linchamento, o da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que era casada e tinha dois filhos. Ela foi agredida e morta por seus vizinhos no Guarujá no Estado de São Paulo, tudo a partir de um boato mentiroso divulgado pela internet, que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Fabiane era inocente. Os seus agressores não são.

Assusta-me a ideia de que muitos passem a defender o linchamento como algo normal e aceitável, repetindo tamanha brutalidade em outras cidades. Que muitos pensem e digam que Cleidenilson teve o que merecia.

Ninguém pode caminhar bem tomando atitudes bárbaras. A violência empregada a ponto de tirar a vida de alguém não se legitima por nenhum argumento. O que aconteceu somente poderia ser justificado por um pensamento doentio, derivado de mentes transtornadas.

O que assalta deve ser julgado, condenado e pagar pelo seu crime. Da mesma forma aquele que ceifa a vida de alguém não merece ficar impune. Que a Justiça seja ampla e para todos.

Cleidenilson até poderia ter sido um ladrão, mas os que lhe tiraram a vida, o que são?

Não matar é um dos dez mandamentos que figuram no Livro do Êxodo (capítulo 20). Referido mandamento não deve ser somente observado por pessoas que professam fé em determinadas religiões, mas por toda pessoa civilizada que deseja conviver em paz.

Jeandré C. Castelon


Imagem: http://migre.me/qKX9N

Nos Jornais: Gazeta de Toledo / Umuarama Ilustrado / O Paraná

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