sexta-feira, 23 de junho de 2017

Martinho Lutero e a Theotókos: Mãe de Deus


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Foi Martinho Lutero que em 1517 deu início à Reforma Protestante, rompendo seus laços com a Igreja Católica. É fato que antes dele aconteceram outras divisões dentro da Igreja que até hoje permanecem, contudo, muito mais ligadas a questões de etnia - especificidade sociocultural, refletida principalmente na língua e nos costumes -,  como por exemplo a que deu origem à Igreja Maronita no Líbano (com a instituição do Patriarcado próximo do ano 700 d.C.), assim como outras Igrejas de rito oriental, em plena comunhão com a Sé Apostólica, reconhecendo a autoridade do Papa, o líder da Igreja Católica Apostólica Romana. Os protestantes, embora respeitem o Papa como uma importante figura pública, não estão sujeitos à sua autoridade.

Talvez a maior divergência doutrinal existente entre católicos e protestantes diz respeito à interseção e veneração dos santos, que não tem nada a ver com adoração, sendo essa reservada somente à Deus. Outra grande divergência diz respeito ao dogma de “Maria Mãe de Deus”, a Theotókos, solenemente proclamado no Concílio de Éfeso realizado em 431; foram refutados os argumentos de Nestório que defendia ser Maria apenas a mãe do Jesus humano. Nestório tinha dificuldade de compreender que Jesus possui duas naturezas, a divina e a humana, que não se confundem, mas estão unidas na única pessoa do Filho de Deus, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC) resumidamente nos parágrafos de 479 a 483.

Também, segundo a tradição, foi durante o Concílio de Éfeso que surgiu a segunda parte da oração da Ave-Maria: “santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.  Embora haja aqueles que defendem que a segunda parte da Saudação Angélica somente teria sido agregada após o Concílio de Trento (1545-1563). Particularmente, gosto mais da primeira versão.

Embora os protestantes professem que Maria seria somente a mãe de Jesus enquanto homem, o próprio Lutero, pai do protestantismo, reconheceu que Maria é a mãe de Deus, em sintonia com o que ensina a Igreja Católica. Vejamos o que diz, respectivamente, os parágrafos 479 e 495 do Catecismo da Igreja Católica:

“No tempo estabelecido por Deus, o Filho Unigénito do Pai, a Palavra eterna, isto é, o Verbo e imagem substancial do Pai, encarnou. Sem perder a natureza divina, assumiu a natureza humana”.


“Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos)”.

Para aqueles que possam ter dúvidas, cito apenas um dos trechos do livro “Magnificat – O louvor de Maria” escrito por Martinho Lutero em 1522 e disponível para compra no Brasil, onde ele identifica Maria, inúmeras vezes, como a “Mãe de Deus”:

Portanto, a santa mãe de Deus quer dizer o seguinte com essas palavras: nada de todas essas coisas e grandes bens é meu. Aquele que é o único que faz todas as coisas e cujo poder exclusivo atua em tudo fez essas grandes coisas. ... (p. 49).

Portanto, Lutero acreditava e professava que Maria é a Theotókos, ou seja, a Mãe de Deus. Em algum momento da história, provavelmente fruto da divisão existente entre as centenas de milhares de denominações protestantes, penso eu, passaram a professar que Maria, mãe de Jesus – verdadeiro homem e verdadeiro Deus – somente seria mãe do Verbo encarnado, enquanto homem, separando a indivisível unidade de suas duas naturezas, humana e divina, separação que nunca foi aceita pela Igreja Católica e pelo ex-monge agostiniano devoto de Nossa Senhora.

Jeandré C. Castelon

Advogado, pós-graduado em Cultura Teológica e membro da Pastoral Familiar



Capa e trecho do Livro "Magnificat - O Louvor de Maria" escrito por Martinho Lutero


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