quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Boa Morte?



De origem grega, a palavra eutanásia, em sentido literal significa “boa morte” ou “morte sem dor”.  Mas será mesmo?

A eutanásia, é definida como o procedimento pelo qual uma pessoa em estado terminal, ou portadora de doença incurável que esteja em sofrimento constante, seja auxiliada a morrer rapidamente e sem dor. No Brasil a legislação tipifica a conduta como crime de homicídio.

No mundo pelo menos cinco países permitem a eutanásia. A Holanda foi a pioneira e desde 2002 pessoas com total consciência, portadoras de doenças incuráveis e que padecem com dores consideradas insuportáveis, podem solicitar ajuda para interromper a própria vida. Logo depois, no mesmo ano, a Bélgica inovou e permitiu também que pessoas saudáveis pudessem deixar registrado o desejo de morrer, para o caso de que eventual doença as deixassem inconscientes.

Na Suíça e na Alemanha a eutanásia é proibida, contudo, o suicídio assistido é permitido, ou seja, a pessoa deve livremente realizar os procedimentos para sua morte sem ajuda direta de terceiro. A Suíça possui uma legislação ainda mais liberal que da Alemanha, permitindo que entidades orientem e ofereçam estrutura para a realização do mórbido procedimento, tornando o país famoso no mundo pelo “turismo da morte”. Pessoas de diversas nacionalidades viajam para a Suíça com o fim último de ceifarem a própria vida. Obviamente que o processo é oneroso e os pacientes desembolsam altas somas para poderem ter acesso ao procedimento fúnebre.

Em alguns estados Norte-americanos a eutanásia, quando possível a manifestação da vontade particular, é permitida.

Também não é raro nos depararmos com muitos casos de pessoas que recorrem à Justiça pleiteando o direito de desligarem os aparelhos que mantêm vivo um ente da família. Muitas vezes a solicitação é atendida. Nestes casos, acredito que não se trata mais do direito de morrer, mas sim, do direito de matar.

Inúmeras são as situações de pessoas que padecem de mal incurável e mesmo que em casos extremos, imóveis e prisioneiras dentro do corpo atrofiado e inerte, conseguem manifestar o desejo de viver, mesmo que somente através de pequenos movimentos do globo ocular. É comum a pessoa estar consciente, com a inteligência totalmente preservada. Há casos em que nenhum tipo de manifestação física seja possível. Imagine a sensação horrenda que alguém possa sentir quando escuta uma pessoa querida decidir que é chegada a hora de morrer sem poder fazer nada a respeito. Importante destacar que, pela fé e esperança, virtudes presentes na maioria dos seres humanos, em alguns casos, pacientes que estavam com os dias contados despertam e recobram a vida.

É relevante mencionar ainda, que na Alemanha nazista a eutanásia, mesmo em casos sem a anuência do paciente, foi responsável pela morte de milhares de pessoas consideradas incuravelmente doentes, bastando para tanto um exame médico neste sentido. Nessa época pessoas idosas, deficientes físicos e doentes mentais eram arrancadas de suas famílias e assassinadas. Essas pessoas eram consideradas improdutivas, não poderiam trabalhar e contribuir para o Regime. Defendia-se o dever de exterminar aqueles cujas vidas eram consideradas "indignas de serem vividas”.

Na realidade, as pessoas doentes ou com alguma deficiência precisam ser respeitadas e merecem tratamento digno. Devem ser amparadas para que possam ter uma vida com a qualidade tão normal quanto for possível.

Acredito que todo o esforço em defesa da vida humana deva ser empregado, desde a concepção até a morte natural. A vida é uma dádiva. Permitir a eutanásia ou o suicídio assistido é extremamente nocivo e perigoso, não só porque fere o direito natural à vida, mas também porque é impossível atestar a idoneidade moral de um carrasco.

Jeandré C. Castelon
Advogado e membro da Pastoral Família


Imagem: http://migre.me/rSC6V

Nos Jornais: Umuarama Ilustrado / Gazeta de Toledo / Jornal o Paraná

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