O Papa Francisco, no parágrafo 273 da Exortação Apostólica Amoris Laetítia destaca que: “Quando se propõe os valores, é preciso fazê-lo pouco a pouco, avançar de maneira diferente segundo a idade e as possibilidades concretas das pessoas, sem pretender aplicar metodologias rígidas e imutáveis. A psicologia e as ciências da educação, com suas valiosas contribuições, mostram que é necessário um processo gradual para se conseguir mudanças de comportamento e também que a liberdade precisa de ser orientada e estimulada, porque, abandonando-a a si mesma, não se garante a sua maturação. A liberdade efetiva, real, é limitada e condicionada. Não é uma pura capacidade de escolher o bem, com total espontaneidade (...)”.
Conheço uma
instituição que ajuda pessoas que não têm condições de suprir suas próprias
necessidades, auxiliando-as com roupas, alimentação e até mesmos promovendo
alguns cuidados com a higiene pessoal. Essa instituição também recolhe alguns
moradores de rua em situação de maior vulnerabilidade e lhes oferece moradia e
uma nova chance na vida, muitas vezes até encaminhando a pessoa para um
trabalho, devolvendo sua dignidade de forma total, sendo feito ainda, todo um
acompanhamento de ordem espiritual.
Referida entidade
beneficente recebe doações, e necessita principalmente de alimentos e produtos
de limpeza. Se algum item sobrar eles encaminham para outro local, onde
eventualmente estejam precisando. Nada se perde.
Visitei o local
algumas vezes. O almoço é servido diariamente. Até fui convidado uma vez para
almoçar com eles. Levei alguns alimentos e produtos de higiene pessoal. O local
é alugado, se eles não receberem doações também em dinheiro não há como arcar
com as despesas de manutenção.
Em uma certa
visita descobri que muitos jovens participam do movimento, ajudam em algumas
atividades e inclusive em campanhas contra as drogas. Alguns dos jovens
simplesmente “emprestam seus ouvidos” e escutam as histórias daquelas pessoas
vulneráveis. Todos eles têm muito a contar, todos eles têm muitas histórias,
normalmente trágicas, mas que podem ter um final feliz.
Cada pessoa atendida
pela instituição é filha de alguém, pode ter irmãos, alguns têm filhos que
infelizmente foram abandonados, ou seja, normalmente possuem algum parente em
melhores condições de vida. É comum que o contato com os vícios tire a pessoa
do convívio familiar. Por isso é importante que além do cuidado que os
voluntários da instituição dedicam a cada uma das pessoas atendidas, que
busquemos resgatar valores familiares, principalmente no que se refere ao
afeto, ao carinho com os nossos entes queridos, aos estudos e ao trabalho,
fortificando cada vez mais laços familiares. Certamente se tivermos famílias
melhor estruturadas, também teremos menos pessoas abandonadas e vivendo nas
ruas.
Importante
salientar que muitos dos que vivem nas ruas não estão lá por livre escolha.
Alguns foram abandonados ainda quando crianças, outros são prisioneiros de
algum vício. Mas todos são vulneráveis, vivem em condições degradantes, todos
são seres humanos, assim como eu sou.
Jeandré C.
Castelon
Advogado,
pós-graduado em Cultura Teológica e membro da Pastoral Familiar