Sempre
achei interessante o significado bíblico do número quarenta: tempo suficiente
para que algo aconteça. Tenho certeza que mesmo que você não se recorde
imediatamente, já ouviu o número quarenta ser pronunciado ao longo da história
do povo de Israel em diversos momentos.
Já
escrevi noutra oportunidade que, na Bíblia: durante
o dilúvio, a chuva caiu por quarenta dias e quarenta noites; Moisés permaneceu
com o Senhor, durante quarenta dias e quarenta noites, antes de receber os Dez
Mandamentos; o profeta Elias caminhou por quarenta dias e quarenta noites,
antes de chegar ao Monte Horeb, a montanha de Deus; quarenta anos o povo hebreu
permaneceu no deserto até chegar à Terra Prometida; os ninivitas tiveram
quarenta dias para se converterem a Deus, quando do anúncio proferido pelo
profeta Jonas; Jesus, após o batismo, permaneceu por quarenta dias no deserto.
Estes são apenas alguns exemplos.
Pois
é, agora é comigo, cheguei aos quarenta. Sim, quarenta anos de idade, embora
tenha a completa convicção de que ainda não alcancei o meu “tempo suficiente”,
espero que os meus “quarenta” em sentido bíblico só aconteça após eu superar os
cem anos de vida.
Antigamente
quem superava os trinta anos já era considerado ancião. Em 1900 a expectativa
de vida do brasileiro era de apenas espantosos 33,7 anos, viver além disso era
lucro. Popularmente, a letra da divertida e controvertida canção interpretada
por Sergio Reis intitulada “Panela Velha”, descreve que a pessoa com mais de
trinta anos “é madura” e “estão falando que ela é muito coroa”, porém,
corrige-se a composição ao afirmar sabiamente que “a nossa vida começa aos
quarenta anos”.
Percebo
que já não sou mais como era ates. Olhando no espelho noto uma desagradável
assimetria causada pelas inevitáveis linhas do tempo que começam a marcar meu
rosto. Sobre os cabelos, prefiro abster-me de comentar este assunto.
Quando
mais jovem achava interessante o adágio que diz: “não me arrependo de nada que
fiz, só daquelas coisas que deixei de fazer”. Quanta bobagem. Se pudesse teria
feito muitas coisas de forma diferente, principalmente quando as minhas escolhas
afetaram negativamente outras pessoas. Para tanto, ainda bem que existem:
arrependimento e reconciliação.
Tenho
fé que cheguei até aqui porque Deus assim permitiu, creio que ele deseja algo
de mim que ainda eu não descobri exatamente o que é (de forma alguma quero ser
pretensioso, acredito que Deus tem planos especiais para cada um de nós). Penso
que ainda falta muito para eu completar a minha missão aqui na terra. Se ao Céu
eu fosse chamado neste momento, chegaria lá um tanto quanto contrariado, ainda
não chegou a minha hora (por outro lado agradecido de não ter sido enviado para
a “repartição inferior”, você sabe à qual me refiro, aquela sob os cuidados do
inimigo).
Tenho
esposa, filhos, família, amigos. Sou grato por isso. Sei que nem sempre sou a
melhor companhia, embora inesgotáveis esforços. Talvez a partir de hoje,
somados mais quarenta anos, consiga a extraordinária façanha de gastar o tempo apenas
com as coisas que realmente são importantes na vida. Seguirei meu caminho
diante de acertos e tropeços, mas sempre com a vontade inequívoca de não cometer
antigos erros.
Jeandré
C. Castelon