Em
sua maioria, os estupros são cometidos por parentes, amigos da família ou
conhecidos da vítima, representando cerca de 70% dos casos. Ironicamente, sob
igual cifra, crianças e adolescentes representam 70% das vítimas desse crime hediondo.
Especialistas apontam que: “as
consequências, em termos psicológicos, para esses garotos e garotas são
devastadoras, uma vez que o processo de formação da autoestima - que se dá
exatamente nessa fase - estará comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes
nos relacionamentos sociais desses indivíduos”. Tudo isso, segundo dados do IPEA
– Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Os
efeitos desta violenta agressão quando praticada contra vítimas do sexo
feminino (89% das ocorrências), não raras vezes culmina com uma gravidez, que
pode ser interrompida através de um aborto legal/descriminalizado, custeado
pelo SUS.
As
campanhas pró-aborto têm se tornado cada vez mais contundentes, para todo e
qualquer situação onde a gestante opte por interromper a “indesejada” gravidez,
principalmente durante as primeiras semanas de gestação, com as despesas
médicas pagas pelo governo.
A
impressão que tenho é que atacam a “consequência” e nada ou muito pouco é feito
para combater a “causa”. Descriminalizar totalmente o aborto não irá diminuir o
número de estupros, talvez até contribua para o alívio da doentia consciência
do agressor.
É
baixo o número de casos de violência sexual que chegam ao conhecimento das
autoridades e ainda menor quando a vítima é do sexo masculino. O
constrangimento da vítima é inegável, principalmente porque em muitas situações
é tratada pela sociedade como se fosse corresponsável pela violência que
sofreu.
O
aborto não é a solução para o combate à violência sexual. Não se corrige um
crime punindo outro inocente, neste caso o bebê. É preciso que as vítimas sejam
tratadas com total amparo psicológico e principalmente de forma digna e
respeitosa. É preciso que parentes não protejam o agressor, que como dito,
muitas vezes pertence ao âmbito familiar. É preciso que se invista em
segurança, em educação, e até mesmo que se resgate valores familiares. A
família tradicional é constantemente bombardeada como se fosse uma ferida que
precisasse ser urgentemente cauterizada. Muitos não se dão conta de que uma
família bem estruturada, amorosa e com valores sólidos, contribuirá de forma
positiva em todos os seguimentos da sociedade.
Para
concluir, relato o caso real de uma moça, que depois de muitos anos sendo
abusada pelo próprio pai, relatou-me que com a ajuda de um parente denunciou
ser vítima de estupro, mas precisou sair de casa, porque sua mãe queria que a
mesma dissesse às autoridades que tudo não passava de “um mal-entendido”, para
que pudessem “ser uma família de novo”, como se isso apagasse todos os traumas
físicos e psicológicos causados pelo pai-estuprador. A mãe sabia de tudo, mas
nunca fez nada pela filha. Não sei como foi o desfecho deste triste liame. Quanto
a referida moça, nunca mais eu a vi.
Jeandré
C. Castelon
Advogado,
pós-graduado em Cultura Teológica e membro da Pastoral Familiar
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