Um homem de 29 anos foi linchado por um
grupo de pessoas, moradores do bairro denominado Jardim São Cristóvão em São
Luiz do Maranhão. O nome dele era Cleidenilson. Era, porque ele está morto. Foi
amarrado num poste por populares, e agredido até a morte, assim como faziam com
os negros antes da abolição da escravatura quando da assinatura da Lei Áurea em
13 de maio de 1888. Açoitavam, e muitas vezes até o ponto de retirar a vida do
escravo, visando entre outros objetivos, servir de exemplo. No mesmo episódio
estava envolvido um menor de 16 anos, que teve melhor sorte, e apesar de também
brutalmente agredido, sobreviveu à barbárie.
Cleidenilson e o citado menor foram sumariamente
julgados e a macabra sentença foi executada à luz do dia, na presença de muitas
testemunhas, pelas mãos de uma população raivosa e descontrolada. Segundo a
polícia, os dois envolvidos teriam tentado assaltar um bar. Foram rendidos e
amarrados. Cleidenilson preso a um poste, teve suas roupas arrancadas, e nu,
suportou por algum tempo os socos, chutes, pedradas e garrafadas, até quando
não mais aguentou e expirou.
O pai de Cleidenilson afirmou
veementemente que seu filho não era ladrão. Digo, hipoteticamente, mesmo que fosse
um ladrão, não merecia ser brutalmente assassinado.
Pergunto-me: o que vai acontecer com os
autores de tão bárbaro crime? Talvez não aconteça nada. Talvez ninguém seja
punido. Estamos no país da impunidade.
Quero deixar bem claro que, se o assalto
fosse confirmado pela Justiça, os dois deveriam ser punidos com os rigores da
Lei. Ninguém deve ser condenado, sem antes, submetido a um julgamento isento de
ânimo e justo.
Recordo-me de outro linchamento, o da
dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, que era casada e tinha dois
filhos. Ela foi agredida e morta por seus vizinhos no Guarujá no Estado de São
Paulo, tudo a partir de um boato mentiroso divulgado pela internet, que afirmava
que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia
negra. Fabiane era inocente. Os seus agressores não são.
Assusta-me a ideia de que muitos passem
a defender o linchamento como algo normal e aceitável, repetindo tamanha
brutalidade em outras cidades. Que muitos pensem e digam que Cleidenilson teve
o que merecia.
Ninguém pode caminhar bem tomando
atitudes bárbaras. A violência empregada a ponto de tirar a vida de alguém não
se legitima por nenhum argumento. O que aconteceu somente poderia ser
justificado por um pensamento doentio, derivado de mentes transtornadas.
O que assalta deve ser julgado,
condenado e pagar pelo seu crime. Da mesma forma aquele que ceifa a vida de
alguém não merece ficar impune. Que a Justiça seja ampla e para todos.
Cleidenilson até poderia ter sido um
ladrão, mas os que lhe tiraram a vida, o que são?
Não matar é um dos dez mandamentos que
figuram no Livro do Êxodo (capítulo 20). Referido mandamento não deve ser
somente observado por pessoas que professam fé em determinadas religiões, mas
por toda pessoa civilizada que deseja conviver em paz.
Jeandré C. Castelon
Imagem: http://migre.me/qKX9N |
Nos Jornais: Gazeta de Toledo / Umuarama Ilustrado / O Paraná
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